terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

compartlhando ideias...

Percepção social da natureza, representações e valores simbólicos
Zysman Neiman[1]

A questão ambiental é tema recorrente do debate social atual. É uma construção social relevante de uma sociedade que se tornou reflexiva sobre seus próprios rumos, que busca uma nova racionalidade, que almeja a sustentabilidade. Nesse contexto, a cooperação volta a ter uma dimensão relevante e a busca de um novo paradigma alternativo para o futuro da civilização se torna anseio de todos.
A Educação Ambiental tem como um de seus objetivos formar cidadãos conscientes de sua relação com a natureza e com seu habitat, devendo primar pela formação de pessoas que almejem a sustentabilidade, ajam na busca de soluções para o uso racional dos recursos naturais, de modo que as futuras gerações possam também usufruí-los.
Ecologizar a sociedade é introduzir a variável ecológica onde antes só havia a preocupação com o desenvolvimento econômico. Envolver os atores sociais que participam da discussão sobre a questão ambiental não tem sido suficiente para a conquista de novos valores. Mais do que conscientizar (campo da “razão”) é preciso sensibilizar (universo restrito das “emoções”), questionar o paradigma central do capitalismo, e não apenas adaptá-lo a uma suposta “nova” racionalidade ecológica.
O contato com ecossistemas nativos é vital para o ser humano e promove o sentimento de pertencimento ao território. Por esse motivo, o Ecoturismo, entendido como instrumento de Educação Ambiental, pode contribuir para a construção de representações e significados no imaginário social e transformar a relação do ser humano com o ambiente. A percepção da beleza dos destinos, carregada de simbolismo, remete seus adeptos à busca de um ideal de paisagem onde a ética e a estética têm papel de destaque. Os elos com a localidade e com as outras pessoas, renovados sobre uma outra perspectiva, passam a orientar as ações dos sujeitos. Desta forma, os destinos ecoturísticos passam a significar lugares presentes na vida dos indivíduos, e não mais aqueles longínquos e misteriosos “paraísos” inaccessíveis, Ou seja, cria-se uma nova identidade, um vínculo afetivo entre sujeito e lugar.
O Ecoturismo, caso se proponha a atrelar o contato com a natureza ao pensamento simbólico, restaurar equilíbrios através do afloramento de comportamentos ancestrais, e não fugir da responsabilidade de construir novos paradigmas a partir de uma nova perspectiva de pensamento, menos linear e mais sistêmico, poderá enfim, conquistar o sucesso tão almejado pelos educadores ambientais. Gostar da natureza pode ser um sentimento afetado por representações sociais, o que reforça a importância de como será conduzido, dirigido, o contato com a natureza em atividades de Ecoturismo. Alguns elementos do Ecoturismo que favorecem a Educação Ambiental são fundamentais: o contato deve ser intenso, deve haver apoio de um grupo (essas atividades devem ser feitas coletivamente), e deve haver superação de barreiras.
O próprio sentimento preservacionista é um conceito antropocêntrico, uma vez que é o ser humano quem decide o que preservar ou não. Mas, além desse antropocentrismo, há uma percepção mais genuína de que existe uma ordem, e que a mesma é bonita, uma fonte estética. A flor e os animais não sabem que são bonitos. A vantagem do ser humano é que ele tem um olhar capaz de abstrair-se dele mesmo ter uma empatia com a natureza. E na hora que se entra em empatia é que se compreende como ela funciona Esta é a grande conquista do ser humano. Assim, é preciso reconhecer que quanto mais humanos desejamos ser, menos “racionais” nos devemos tornar. Buscar o lado sensível, paulatinamente abandonado desde o iluminismo, parecer ser o caminho único possível para nossa re-humanização, por mais paradoxo que isso possa parecer.

[1] Professor da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar – Campus Sorocaba e Diretor Presidente do Instituto Physis – Cultura & Ambiente. zysman@physis.org.br

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