OBJETIVO DA ARTE
A arte pura, por princípio não é objetiva, pelo menos no sentido que a palavra sugere: Algo a ser alcançado, portanto dissociado de quem a produz.
Quando dizemos “objetivo” referimo-nos a um objeto ou situação, extrínseco a nós e manifestado “fora”, e com ênfase no objeto ou situação.
Ora, o mote da arte é exatamente manifestar algo que está “dentro”.
E manifestação não tem “alvo”. Pelo menos quanto ao que nos interessa.
Podemos estudar arte na sua história, nas suas técnicas e possibilidades e assim nos transformar em eruditos ou profissionais da arte, o que não nos revela, ...artistas. Podemos também estudar estética e sua aplicação, e ainda assim não nos transformaremos em artistas.
Aliás, segundo Heidegger, “a estética é a negação da arte”.
Fala-se muito em arte “subjetiva” e “objetiva” principalmente nos estudos de Gurdjieff, mas entendo que o adjetivo é mal compreendido, considerando que toda arte é subjetiva, pela sua própria natureza no sentido de que a arte revela um mundo interior e por extensão –e intenção– subjetiva.
Beethoven, com suas nove sinfonias, não teve escopo nenhum a não ser criá-las. Poderíamos dizer que a finalidade “revela-se” a quem abre espaço interior para que o “objetivo” de Deus encontre ressonância nele –artista–.
Mas, podemos trocar a palavra “arte subjetiva” por “arte sem espírito” e aqui ela faz todo sentido, e nesta acepção, a arte subjetiva se reveste de uma finalidade (objetivo) que geralmente é –ou sempre é– egoísta. E quando ela se cobre de objetivo é: mais venda, glamourização, sucesso, e toda manifestação egóica.
A arte, desprovida de finalidade, e cuja expectativa do artista que a exercita somente é uma manifestação da sua verdade interior, abre espaço para a revelação da verdade universal, e com certeza atinge a sua “finalidade”.
Poderiam objetar que Michelangelo, Vivaldi e outros gênios criaram, sob encomenda, mas para os sábios, –que compreendem as regras e transcendem-nas (transgridem)– tudo é permitido.
Falo agora do meu “objetivo” na arte:
Autoconhecimento, auto-exploração, e toda conseqüência que daí vier. Em primeiro lugar, o medo é o grande empecilho que nos impede de vivenciar e criar “arte”, e em última análise, medo é a antítese do ...“amor”.
O medo pode travestir-se de várias maneiras que não cabe aqui, abordagem. O primeiro passo, é tomar coragem e se desvencilhar de camadas que acobertam a “essência” do que nós somos, e a primeira camada é ...o medo; de não fazerem direito, de não corresponderem expectativas de uma auto-imagem criada, de desagradarem aos deuses, da frustração, de achar que não merecem, etc.
A prática da arte obriga, em primeiro lugar ou em algum momento, a estar só e consigo mesmo, e quem não consegue ir fundo na sua “solidão” não vai longe e nem fundo, demonstrado –intencionalmente– na nossa pequena prática de meditação.
A arte implica em “expansão da consciência”, e ela é, em alguma medida, transgressora, e se for bem compreendida a palavra, –naquilo que nos diz respeito– transgressora de nossos limites pessoais.
Nada contra, obviamente, à arte utilitária ou aplicada, nas suas diversas manifestações estéticas; decoração, paisagismo, arquitetura, design etc. –todas filhas diletas da Grande Arte Universal– mas, certamente, quem se emancipou de seus limites restritivos, sendo profissional nestas áreas, produzira “o belo” com maior consciência e consistência.
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